Coração de alcachofra

Alcachofra

Preparei um acepipe para o almoço e entretive-me a tarde toda com mil folhas. Retirei as folhas secas do exterior de uma alcachofra e continuei a abrir e a descobrir os cambiantes de cores e texturas das inúmeras partes, um deslumbramento até ao âmago da planta. Dizer em francês “avoir un coeur d’artichaut” significa apaixonar-se várias vezes, facilmente. Percebe-se bem porquê.

A planta é designada Cynara cardunculus. Cynara deriva justamente da cinarina, a substância química que confere o sabor doce da polpaAltera de tal modo as papilas gustativas que se bebermos um copo de água a seguir a comer alcachofra, parece que foi adicionado açúcar à água. Também por isso é ingerido por pessoas que queiram perder peso. A alcachofra é igualmente rica em fibras, vitamina C, ácido fólico, magnésio e potássio e antigamente levado a bordo em viagens longas  contornando o escorbuto.

Em árabe الخرشوفة, tal como em português, e significa “planta espinhosa”. Muito comum na bacia do Mediterrâneo, será originária do Norte de África.

Em Portugal pouco a vejo se não na Arte Manuelina, pela sua simbologia do uno e do múltiplo, tal como o cacho de uvas, a romã, a maçaroca, a pinha. Agora também a vemos como fonte de inspiração num dos serviços de cerâmica da Bordallo Pinheiro.

Pode ser ingerida crua, cozinhada, em chá e em cápsulas.Interessante ainda referir que é um elemento identitário na gastronomia em Roma. Prepara-se “carciofi alla giudia” por ocasião do Yom Kipur. 

A variante alcachofra selvagem, ou o cardo mariano tem outros significados que veremos para a próxima.

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